O
gel foi criado por Lino Ferreira, investigador do Centro
de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, e
pode vir a resolver um problema que afeta 150 mil diabéticos em
Portugal.
Um gel criado com o uso de células estaminais do sangue do cordão
umbilical, que trata as feridas crónicas dos doentes diabéticos, acaba de ser
patenteado por Lino Ferreira, investigador da Universidade de Coimbra, em
parceria coma a empresa Crioestaminal.
O problema afeta 150 mil diabéticos em Portugal e o gel "resulta
da necessidade de encontrarmos meios mais eficazes para o tratamento deste tipo
de feridas, pois estima-se que 15% dos pacientes diabéticos tenham ulcerações do
pé que não cicatrizam", explica o investigador.
O novo produto é composto por um co-cultura de células do sangue
do cordão umbilical humano com células endoteliais (as células que se encontram
no interior dos vasos sanguíneos) e um gel de biomimético, isto é, um gel
produzido por componentes encontrados no sangue.
Melhorar o potencial regenerativo
Lino Ferreira esclarece que "em concreto, o que patenteámos foi
uma nova metodologia para melhorar a sobrevivência e o potencial regenerativo
das células estaminais do cordão umbilical".
O cientista de 41 anos de idade, já tem 14 patentes registadas a
nível internacional, tendo sido sete dessas patentes licenciadas a empresas
americanas, europeias e nacionais.
É coordenador de uma equipa do Centro de Neurociências e Biologia
Celular da Universidade de Coimbra, localizado em Cantanhede, no Biocant Park
(parque de biotecnologia). A equipa é formada por mais de 20 investigadores e
trabalha na modulação da actividade de células estaminais para utilização em
Medicina Regenerativa e identificação de compostos no tratamento de doenças
cardiovasculares.
Primeira aplicação em larga escala
André Gomes, administrador da Crioestaminal responsável pelas
operações de investigação e desenvolvimento (I&D) da empresa, salienta que o
gel patenteado "é uma nova aplicação para o sangue do cordão umbilical, para
além das 81 doenças que já são tratadas com ele, mas é a primeira aplicação no
tratamento de uma doença com grande incidência", isto é, que afeta um grande
número de pessoas.
"Claro que não estamos a prometer nenhuma cura, mas estamos a dar
um passo importante para lá chegar", acrescenta o gestor, que é também
bioquímico de formação. André Gomes prevê que o gel esteja disponível no
mercado, "em termos de utilização rotineira", dentro de cinco a dez anos.
Será sempre um medicamento fabricado à medida de cada paciente,
"porque estamos a falar de terapia celular", uma área da medicina em grande
expansão, onde há grandes expectativas quanto à cura de muitas doenças.
Ensaios clínicos ainda em 2012
Depois da patente registada, a próxima etapa será a dos ensaios
clínicos em seres humanos, visto que os ensaios pré-clínicos em animais já foram
feitos e tiveram sucesso. É uma etapa com duas fases, que deverá demorar dois a
três anos.
"Estamos à procura de parceiros e de financiamento para os
ensaios clínicos, onde pretendemos testar a eficácia e a segurança do gel, e
queremos avançar com este processo ainda em 2012".
As células estaminais são células indiferenciadas existentes em
todos os organismos multicelulares, que se podem dividir e diferenciar em
diversos tipos de células especializadas, e que podem também autorenovar-se para
produzir mais células estaminais.
Três anos de investigação
O projeto de investigação que conduziu à descoberta do gel durou
três anos e a Crioestaminal investiu nele 600 mil euros. Os outros projetos de
I&D em curso na empresa, em parceria com várias universidades, envolvem um
investimento global de dois milhões de euros.
A Crioestaminal foi o primeiro banco de células estaminais do
sangue do cordão umbilical a ser criado em Portugal, em 2003, e a primeira
empresa autorizada pela Autoridade para os Serviços de Sangue e da
Transplantação.
É também a única empresa portuguesa acreditada pela Associação
Americana de Bancos de Sangue (AABB), uma das duas entidades a nível mundial que
estabelece critérios de qualidade específicos para os bancos de sangue do cordão
umbilical.
Artigo original em: http://expresso.sapo.pt/cientista-portugues-inventa-gel-para-curar-feridas-dos-diabeticos=f751783#ixzz263Q8xijj
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